.
"O horizonte está nos olhos e não
na realidade"
Angel Ganivert
.
O resto da tarde foi de preparação para a
exploração nocturna.
Os calafates de bordo - que acumulavam com as funções de carpinteiros - foram os que mais trabalho tiveram: trabalho humilde,
de carpinteiro, de serrar tábuas e pregar pregos, mas tão importante, na
circunstância, como a ciência do grande pensador que foi o sábio que primeiro
mediu a dimensão do Mundo - embora errando profundamente, mas abrindo um espaço de crítica que
haveria de revolucionar o pensamento das gentes.
Consultado o sábio das pedras - conhecedor das técnicas das minas e dos metais - o capitão-mor ordenou que fossem feitos artefactos
tão rudimentares mas tão indispensáveis para a colheita das pepitas de ouro,
quanto o são as pás de madeira, os crivos com que passar a pente fino as areias
do rio e mais uns niveladores para rasar as ditas.
Foi uma grande azáfama. Um enorme
frenesim. A cada prego pregado, a cada tábua serrada, os navegantes associavam
a visão antecipada de um maná feito de ouro reluzente que lhes haveria
de dar a fortuna e o lazer deleitoso dos ricos e dos reis.
Tudo isto os nautas pensavam, na sua
grande confusão de pensar e imaginar, na crença que tomavam por certa, embora
ao capitão não saísse do espírito a visão que tivera horas antes, sob o sol
escaldante da ilha.
.
em A Febre do Ouro, pág 112
Sem comentários:
Enviar um comentário