domingo, 5 de janeiro de 2014

CALAFATES


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"O horizonte está nos olhos e não na realidade"                                    
Angel Ganivert
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O resto da tarde foi de preparação para a exploração nocturna.
Os calafates de bordo - que acumulavam com as funções de carpinteiros - foram os que mais trabalho tiveram: trabalho humilde, de carpinteiro, de serrar tábuas e pregar pregos, mas tão importante, na circunstância, como a ciência do grande pensador que foi o sábio que primeiro mediu a dimensão do Mundo - embora errando profundamente, mas abrindo um espaço de crítica que haveria de revolucionar o pensamento das gentes.
Consultado o sábio das pedras - conhecedor das técnicas das minas e dos metais - o capitão-mor ordenou que fossem feitos artefactos tão rudimentares mas tão indispensáveis para a colheita das pepitas de ouro, quanto o são as pás de madeira, os crivos com que passar a pente fino as areias do rio e mais uns niveladores para rasar as ditas.
Foi uma grande azáfama. Um enorme frenesim. A cada prego pregado, a cada tábua serrada, os navegantes associavam a visão antecipada de um maná feito de ouro reluzente que lhes haveria de dar a fortuna e o lazer deleitoso dos ricos e dos reis.
Tudo isto os nautas pensavam, na sua grande confusão de pensar e imaginar, na crença que tomavam por certa, embora ao capitão não saísse do espírito a visão que tivera horas antes, sob o sol escaldante da ilha.
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em A Febre do Ouro, pág 112

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